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Mieloma múltiplo (MM) é uma proliferação neoplásica de uma população clonal de plasmócitos, que produz proteína monoclonal (imunoglobulina G , IgA, e proteína de cadeia leve κ ou λ são as mais comuns).1 A neoplasia dos plasmócitos afeta os ossos – incluindo o crânio – levando à destruição extensa do esqueleto devido a lesões osteolíticas e osteopenia, com conseqüentes fraturas patológicas.2 Outras características cardinais da MM são dor óssea, fadiga, perda de peso, anemia, hipercalcemia, hiperglobulinemia com uma proteína monoclonal no soro ou na urina, insuficiência renal e infecções secundárias.1

MM responde por quase 1% e 10% de todas as neoplasias e malignidades hematológicas, respectivamente, e tem distribuição mundial.1 Nos Estados Unidos, a incidência de MM é de aproximadamente 4-5 por 100.000 habitantes.3 No Brasil, a incidência não é bem conhecida. Em uma pesquisa envolvendo 16 diferentes centros de saúde brasileiros, Hungria et al.4 encontraram 1.112 casos de MM, de 1998 a 2004. Atualmente, a International Myeloma Foundation calcula que há aproximadamente 30.000 pacientes com MM no Brasil.5 A MM é duas a três vezes mais comum em africanos e afro-americanos, com a menor incidência entre japoneses e mexicanos. A proporção de homens: mulheres é de aproximadamente 1,4:1. A neoplasia afeta idosos, com idade média de 66 anos.6,7 Alguns dos fatores de risco para MM são idade avançada, exposição ambiental à radiação, solventes orgânicos (como benzeno), herbicidas e inseticidas, e fatores genéticos (casos familiares, etnia, variações no 3p22,1 ou 7p15.3 loci).6,8

As lesões líticas são o principal achado de MM, que foram descritas nos primeiros relatos da doença por Solly9 e Macintyre10 como ossos fraturados foram substituídos por gelatiniformes, uma substância avermelhada e untuosa.9,10 Mais tarde, Wright11 associou MM com a proliferação neoplásica de plasmócitos. As lesões líticas do mieloma estão de acordo com o conceito de Paget12 de “semente e solo”, onde as células neoplásicas (“sementes”: células plasmáticas neoplásicas) têm tropismo para certos microambientes (“solo”: ossos).

A patogênese das lesões líticas ósseas no MM é complexa e envolve um desequilíbrio entre as funções osteoblásticas e osteoclásticas. A ativação osteoclástica é aumentada no MM, sendo a reabsorção óssea estimulada pelo ativador receptor do fator nuclear κ-β ligand (RANKL). O RANKL é sobreexpresso pelos osteoblastos e células plasmáticas, que estão associados a baixos níveis de osteoprotegerina, o receptor de chamariz RANKL. Além disso, as células do estroma ósseo produzem fatores que ativam a função osteoclástica, como a interleucina-3 (IL-3), IL-6, a proteína macrofágica inflamatória-1 alfa (MIP-1α) e o fator derivado do estroma 1α (SDF-1α).13,14 A diferenciação osteoblástica é inibida por uma expressão aumentada de IL-3, IL-7 e dickkopf 1 (DKK1).15

Figure 1 refere-se ao caso de uma mulher de 62 anos de idade que apresentou dor de cabeça, fadiga, perda de peso, episódios de visão embaçada e diplopia, dor óssea e o aparecimento de numerosos nódulos no couro cabeludo. O trabalho de laboratório revelou hipercalcemia, azotemia, múltiplas lesões ósseas líticas (crânio, esterno, costelas, vértebras, ílio) e proteína urinária kappa Bence-Jones. A biópsia da medula óssea mostrou infiltração de plasmócitos atípicos, com expressão monoclonal da cadeia luminosa κ. O paciente morreu devido a uma parada cardíaca súbita, que a autópsia revelou ser causada por uma embolia pulmonar maciça.

A – Aparência grosseira do calvário obtido na autópsia mostrando múltiplas lesões líticas ósseas (“puncionado”, “crânio de panela de pimenta” ou “crânio de gota de chuva”) variando de 0,5 cm a 2,5 cm de diâmetro, preenchido por tecido carnoso e macio. B – Tomografia computadorizada (TC) do cérebro (reformação 3D) mostrando múltiplas lesões líticas, que são mais proeminentes na área occipital. C – Tomografia axial do cérebro mostrando lesões líticas ósseas invadindo os tecidos moles.

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