Produção de café no Brasil

Veja também: História da erva-mate
Escravos numa fazenda, c. 1885

O café não era nativo das Américas e tinha de ser plantado no país. O primeiro café foi cultivado por nativos americanos. O primeiro arbusto de café no Brasil foi plantado por Francisco de Melo Palheta, no estado do Pará, em 1727. Segundo a lenda, os portugueses procuravam um corte do mercado de café, mas não conseguiram obter sementes da fronteira da Guiana Francesa devido à relutância do governador em exportar as sementes. Palheta foi enviado à Guiana Francesa em missão diplomática para resolver uma disputa de fronteira. No caminho de volta para casa, ele conseguiu contrabandear as sementes para o Brasil, seduzindo a esposa do governador, que secretamente lhe deu um buquê cheio de sementes.

Partilha das maiores exportações brasileiras do total de exportações 1821-1850 (%)
> Açúcar Algodão Café Outros
1821-1830 30.1 20.6 18.4 30.9
1831–1840 24.0 10.8 43.8 21,4
1841-1850 26,7 7,5 41,4 24,4
Fonte: Bethell 1985, p. 86

Café espalhado do Pará e chegou ao Rio de Janeiro em 1770, mas só foi produzido para consumo doméstico até o início do século XIX, quando a demanda americana e européia aumentou, criando o primeiro de dois boom de café. O ciclo decorreu entre os anos 1830 e 1850, contribuindo para o declínio da escravatura e para o aumento da industrialização. As plantações de café no Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais cresceram rapidamente na década de 1820, respondendo por 20% da produção mundial. Na década de 1830, o café havia se tornado a maior exportação do Brasil e respondia por 30% da produção mundial. Na década de 1840, tanto a parcela das exportações totais quanto a da produção mundial chegaram a 40%, tornando o Brasil o maior produtor de café. O início da indústria do café dependia dos escravos; na primeira metade do século XIX, 1,5 milhões de escravos eram importados para trabalhar nas plantações. Quando o comércio de escravos estrangeiros foi banido em 1850, os donos das plantações começaram a se voltar cada vez mais para imigrantes europeus para atender à demanda de mão-de-obra. No entanto, o comércio interno de escravos com o norte continuou até que a escravidão foi finalmente abolida no Brasil em 1888.

O café sendo embarcado no Porto de Santos, São Paulo, 1880

O segundo boom foi da década de 1880 até a de 1930, correspondendo a um período da política brasileira chamado café com leite (“café com leite”). O nome refere-se às maiores indústrias dominantes dos estados: o café em São Paulo e o leite em Minas Gerais.

A Zona da Mata Mineira cresceu 90% do café em Minas Gerais durante a década de 1880 e 70% durante a década de 1920. A maioria dos trabalhadores eram negros, incluindo tanto os escravos como os livres. Cada vez mais imigrantes italianos, espanhóis e japoneses proporcionaram a expansão da força de trabalho. O sistema ferroviário foi construído para transportar os grãos de café até o mercado, mas também forneceu o transporte interno essencial tanto para o frete quanto para os passageiros, além de desenvolver uma grande força de trabalho qualificada. A crescente indústria do café atraiu milhões de imigrantes e transformou São Paulo de uma pequena cidade para o maior centro industrial do mundo em desenvolvimento. A população da cidade de 30.000 habitantes na década de 1850 cresceu para 70.000 em 1890 e 240.000 em 1900. Com um milhão de habitantes na década de 1930, São Paulo ultrapassou o Rio de Janeiro como a maior cidade do país e o mais importante centro industrial.

No início do século XX, o café representava 16% do produto nacional bruto do Brasil, e três quartos de suas receitas de exportação. Os produtores e exportadores desempenharam papéis importantes na política; entretanto, os historiadores estão debatendo se foram ou não os atores mais poderosos do sistema político. A “valorização” de fevereiro de 1906 é um claro exemplo da alta influência que a produção de café exerceu sobre a política federal paulista. A superprodução havia diminuído o preço do café, e para proteger a indústria cafeeira – e os interesses da elite cafeeira local – o governo devia controlar o preço comprando colheitas abundantes e vendendo-o no mercado internacional em uma oportunidade melhor. O esquema provocara um aumento temporário do preço e promovera a expansão contínua da produção de café. O esquema de valorização foi bem sucedido da perspectiva dos plantadores e do estado brasileiro, mas levou a um excesso de oferta global e aumentou os danos causados pela queda durante a Grande Depressão na década de 1930.

Nos anos 1920, o Brasil era um quase monopolista do mercado internacional de café e fornecia 80% do café do mundo. Desde a década de 1950, a quota de mercado do país diminuiu constantemente devido ao aumento da produção mundial. Apesar da queda de participação e das tentativas do governo de diminuir a dependência do setor exportador de uma única safra, o café ainda representava 60% do total das exportações brasileiras no final de 1960.

HistoriografiaEditar

A primeira economia cafeeira no Brasil cresceu perto de São Paulo, na zona cafeeira de Santos. Ao norte de São Paulo estava o Vale do Pairaba, esta região era o lar do Oeste Paulista, outrora hegemônico do café brasileiro. Esta região e sua economia só cresceram por causa do trabalho escravo. Enquanto mais tarde a indústria convidava em grande parte as populações imigrantes a trabalhar no café. A indústria do café já estava em expansão quando a escravidão foi abolida, em 1888. Isso levou à existência da segunda escravidão, promovida pelo governo brasileiro e pelas pressões internacionais européias para expandir ainda mais a economia do café. A política e a economia por trás da segunda escravidão, certamente afetaram a produção de café no Brasil. O historiador Dale Tomich descreve “O conceito de segunda escravidão reinterpreta radicalmente a relação entre escravidão e capitalismo, chamando a atenção para o surgimento de extensas novas zonas de produção de produtos escravos no sul dos Estados Unidos, Cuba e Brasil como parte da industrialização do século dezenove e da expansão econômica mundial”. Usando esta perspectiva sobre a segunda escravidão, explica a indústria do café no Brasil de hoje ao traçar suas origens no século XIX. A abolição da escravatura não necessariamente mudou as práticas trabalhistas, mas sim a história do trabalho. Essa onda de segunda escravidão, como o nome sugere, pode ter abolido a escravidão legal, mas não aboliu as práticas duras de trabalho, nem o racismo. A história social do Brasil ainda era uma sociedade segregada.

Uma das formas mais significativas que a segunda escravidão no Brasil impactou sua história social, é o fato de ela estar ligada ao capitalismo. Os ex-escravos de São Paulo, ainda eram a espinha dorsal da indústria do café, catapultando o Brasil para um status elevado de nação industrializadora. Mesmo antes da emancipação dos escravos, em várias gravuras e imagens do início do século XIX retratam os escravos de pele escura que trabalhavam nos campos de café. Como argumenta o autor Erik Mathisen, a segunda escravidão está ligada ao capitalismo, tal como a própria escravidão. E assim como os Estados Unidos, na década de 1880 no Brasil a escravidão coxeava em seu sentido tradicional, mas os ricos proprietários de plantações desconsideraram a mudança de status social de escravo para ex-escravo, e mantiveram suas práticas de trabalho. Mathisen continua a dizer: “Não só o açúcar cubano, o café brasileiro e o algodão americano se tornaram culturas rentáveis e de alta demanda, mas sua produção se inspirou em novas e brutais técnicas de trabalho, impulsionada por novas idéias sobre a gestão científica da agricultura e do trabalho…”

Muito da paisagem cafeeira brasileira tem a ver com sua história social e trabalhista. A segunda escravidão tem suas raízes na indústria do açúcar, algodão e café nas Américas. A indústria do açúcar, assim como a do algodão na América do Norte, tem uma longa e sinuosa história. Enquanto o açúcar viajou por todo o Velho Mundo, a produção acabou caindo para os europeus na história contemporânea do mundo. Esta mercadoria moldou o history social, e labor, as.well.as a geografia. Como o algodão, esta mercadoria produziu lucros elevados e, portanto, a presença do capitalismo era inegável. Como Dale Tomisch, em muitos de seus trabalhos aponta, açúcar, algodão, e café, mudaram para sempre a paisagem em que as pessoas constroem suas vidas, como sua história tem visto a evolução destas sociedades baseadas em açúcar. E, embora o termo segunda escravidão possa sugerir as bases da emancipação, sua própria história está enraizada na violência e no desmantelamento de sociedades inteiras na África para a produção de escravos e, portanto, para a produção de açúcar, algodão e café. Mesmo com a mão-de-obra livre, o objetivo final do Estado no século 19 era a expansão econômica na economia mundial, portanto, com regimes de trabalho livre ou não, o Estado ainda não está comprometido em aliviar os erros da escravidão, mas o crescimento do Estado econômico. Tendo em mente o contexto da segunda escravidão, ao olhar para estas três principais commodities; o café, ao contrário do açúcar e do algodão, tornou-se mais proeminente no século XIX no Brasil. A política e a economia por trás da segunda escravidão certamente afetaram a produção de café no Brasil.

Antes dos anos 60, os historiadores geralmente ignoravam a indústria do café porque ela parecia muito embaraçosa. O café não era uma indústria importante no período colonial. Em qualquer localidade em particular, a indústria do café floresceu por algumas décadas e depois seguiu em frente, pois o solo perdeu sua fertilidade. Esse movimento foi chamado Frente do Café e empurrou o desmatamento para o oeste. Devido a essa transitoriedade, a produção de café não estava profundamente enraizada na história de nenhuma localidade em particular. Depois da independência, as plantações de café foram associadas à escravidão, ao subdesenvolvimento e a uma oligarquia política, e não ao desenvolvimento moderno do Estado e da sociedade. Os historiadores agora reconhecem a importância da indústria, e há uma literatura acadêmica florescente.

desregulamentação dos anos 90Editar

A mudança do gosto dos consumidores para café mais suave e de maior qualidade desencadeou um desacordo sobre as quotas de exportação do Acordo Internacional do Café no final dos anos 80. Com as cotas retidas do Acordo de 1983, a mudança aumentou o valor do café mais ameno, em detrimento de variedades mais tradicionais. O Brasil, em particular, recusou-se a reduzir suas quotas, acreditando que reduziria sua participação no mercado. Os consumidores, liderados pelos Estados Unidos, exigiam maior qualidade do café e o fim da venda de café a não-membros a taxas reduzidas. As autoridades norte-americanas criticaram o Brasil por não estar disposto a aceitar uma redução das quotas do país, apesar da queda da participação no mercado mundial desde 1980. Jorio Dauster, chefe do Instituto Brasileiro do Café, controlado pelo Estado, acreditava que o Brasil poderia sobreviver sem a ajuda do acordo. Não conseguindo chegar a um acordo em tempo hábil, o acordo fracassou em 1989. Como resultado, o Instituto Brasileiro do Café, anteriormente controlando o preço do café através da regulamentação da quantidade cultivada e vendida, foi abolido para limitar a interferência do governo em favor dos mercados livres. Até este ponto, a indústria simplesmente negligenciou a gestão do controle de qualidade porque as regulamentações governamentais favoreciam economias de escala, mas agora os processadores de café começaram a explorar segmentos de maior qualidade, em contraste com os tradicionalmente de menor qualidade.

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